São Paulo e Corinthians enfrentam-se hoje, às 21h50, no Estádio do Morumbi, em São Paulo, pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2011. A disputa é pela liderança da competição, já que o Tricolor ocupa atualmente o 2º lugar, com 44 pontos, e o Timão vem logo em seguida, na 3º colocação, com só um pontinho a menos.
Essa seria a parte “técnica” da coisa. Mas esse jogo ultrapassa em muito o fator técnico. Corinthians e São Paulo nutrem atualmente a maior rivalidade do futebol brasileiro. Os mais tradicionalistas podem resistir a essa afirmação, lembrando que o Palmeiras é o adversário mais antigo do time de Parque São Jorge. Mas meus caros, os tempos são outros. O Palmeiras era realmente o grande rival do alvinegro de Parque São Jorge... mas, no Século XXI, o Timão tem a sua verdadeira sede esportiva em Itaquera e o Verdão há muito já não brilha como na era do Palestra Itália.
O Santos também tem o Corinthians como seu principal adversário. Mas o Peixe é de Santos, tem sede em outra cidade, não tem uma torcida tão numerosa quanto os rivais da capital e nutre até uma certa simpatia dos paulistanos pelo futebol bonito que sempre jogou em suas grandes fases, com Pelé, Robinho e, agora, Neymar.
Os cariocas podem apontar o charme dos confrontos do Flamengo contra qualquer dos outros três grandes do Rio que esteja melhor no momento. O “maior rival do Flamengo” já foi o Fluminense, o Botafogo, o Vasco; depois voltou a ser o Fluminense, voltou a ser o Botafogo, e agora talvez volte a ser o Vasco...
Nos demais estados, como o Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná ou no Nordeste, existem rivalidades locais históricas, confrontos épicos, ódio ao rival e tudo mais. Mas devemos lembrar que o poder da bola, em nossos dias, está cada vez mais concentrado no velho “Eixo RJ-SP”, a maior parte do dinheiro fica lá, as maiores torcidas estão lá, os grandes acontecimentos da Copa do Mundo de 2014 se darão lá, os últimos sete títulos brasileiros ficaram por lá e nada indica que o atual caneco sairá de lá (os seis primeiros colocados do Brasileirão/2011 são cariocas e paulistas).
Somem-se a todos esses argumentos as pesquisas que apontam o crescimento vertiginoso da torcida são-paulina, que já foi a 7ª do Brasil e atualmente está consolidada como a 3ª maior do país, atrás apenas do Flamengo e do próprio Corinthians. Em algumas delas, dependendo da região, os torcedores do São Paulo até superam os demais, como numa pesquisa feita na Bahia, divulgada ontem, onde o Flamengo foi apontado como a maior torcida e os são-paulinos vieram em 2º lugar, com percentual muito próximo dos rubro-negros. O Corinthians, por sua vez, tem a maior torcida do sudeste, superando até mesmo o Flamengo, como também acontece em determinadas regiões do país. Recentemente, pesquisa feita no nosso estado do Paraná apontou que os torcedores do Timão são maioria por aqui.
Acontecimentos recentes também serviram para apimentar ainda mais a rivalidade entre Timão e Tricolor. O São Paulo conquistou os títulos mais importantes de sua história no início da década de 90 e na segunda metade dos anos 2000, tornando-se o clube mais vencedor do futebol nacional, incluindo nesse rol de conquistas 3 Taças Libertadores e 3 Mundiais Interclubes. Já o Corinthians, maior vencedor de campeonatos estaduais em SP, tem a histórica frustração de nunca ter conquistado uma Taça Libertadores da América. E, a cada ano que passa, o pesadelo alvinegro em solo sul-americano parece ficar maior (na atual temporada, o Timão caiu diante do inexpressivo Tolima-COL, na Pré-Libertadores).
Numa dessas suas fases vencedoras, o São Paulo ficou cerca de cinco anos (entre 2003 e 2007) sem perder para o Corinthians, maior tabu da história entre esses times. O Timão foi à forra justo no ano de seu rebaixamento no Campeonato Brasileiro (2007): Corinthians 1x0, no Morumbi, gol do contestado zagueiro Betão. Já o Corinthians manteve outro tabu diante do São Paulo, que começou justamente em 2007 e durou até março deste ano, quando, por obra do destino, o goleiro Rogério Ceni fez seu 100º gol, cobrando falta magistralmente, e o Tricolor bateu o Timão por 2x1, jogando em Barueri. Mas, no confronto seguinte, no Pacaembu, em jogo válido pela 6ª rodada deste Campeonato Brasileiro, o Corinthians aproveitou-se dos inúmeros desfalques do São Paulo, que vinha invicto e com cinco vitórias consecutivas, e aplicou-lhe uma sonora goleada de 5x0, tomando a ponta da tabela do próprio Tricolor (liderança que o Timão só viria a perder na rodada passada) e levando ao delírio o público alvinegro, que, ironicamente, chegou a pedir para Rogério Ceni bater faltas nessa partida.
Fora de campo, a rivalidade também tem crescido cada vez mais. O São Paulo, por mais que conquiste títulos e veja o seu número de torcedores crescer, nunca terá uma torcida tão apaixonada quanto a “fiel” corintiana, capaz de empurrar o alvinegro para as vitórias mais inesperadas. Como dizem os corintianos, todos os times têm uma torcida; já no Corinthians, a torcida é que tem um time. Prova da “inveja” são-paulina é que, mesmo nas grandes conquistas, os seus torcedores e a própria diretoria fazem questão de lembrar os corintianos, a sua seca de títulos internacionais e a “origem humilde” de sua torcida. É essa soberba tricolor que provocou os corintianos a lhes conferirem o pejorativo apelido de “bambis”.
Por outro lado, se esse “bando de loucos” é capaz de levar o time nos braços, também é verdade que nos momentos ruins a pressão exercida pelos fanáticos corintianos extrapola os limites da razoabilidade. Em nenhum outro clube, a torcida tem tanta influência política. Muitos diretores do Corinthians são membros de torcida organizada (o seu próprio presidente atual é fundador de uma delas) e não hesitam em abrir espaço para os seus parceiros “se reunirem” com os jogadores e a comissão técnica ao menor sinal de crise. Algo surreal no mundo profissional do futebol atual.
É aí que o São Paulo provoca certa inveja nos rivais alvinegros. O profissionalismo tricolor, a competência de seus diretores e presidentes e o respeito ao planejamento são em muito as peças responsáveis por todos os títulos conquistados. Num clube onde o principal patrimônio é a paixão da torcida, fica mesmo difícil analisar as coisas com frieza e seriedade.
Outro capítulo que levou ao acirramento dessa rivalidade foi a disputa por sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014. Inicialmente, o estádio do São Paulo, o Morumbi, era apontado como o local paulistano para receber as partidas do mundial. Porém, o Corinthians, espertamente, já se unia à CBF, buscando aproveitar a oportunidade para – finalmente – conseguir construir o seu estádio. O resultado desse jogo político foi que a CBF minou cada vez mais as resistências tricolores, a ponto de o São Paulo desistir de se comprometer à reforma milionária que se exigia dele, o que fez com que o Corinthians pudesse levar a cabo o seu intento. Atualmente, o Timão é notório parceiro da CBF (o seu presidente, Andres Sanchez é o mais cotado para assumir a presidência da entidade depois da Copa de 2014, quando Ricardo Teixeira promete finalmente “largar o osso”). O São Paulo, por sua vez, não tem lá, digamos, uma grande simpatia por parte dos dirigentes da entidade máxima do futebol nacional.
A própria marcação desse clássico para a 25ª rodada, numa quarta-feira, às 21h50, parece ser um resquício dessa briga. Num campeonato onde os clássicos foram todos marcados para as últimas rodadas, visando exatamente a impedir o que aconteceu nos últimos dois anos (quando os próprios Corinthians e São Paulo foram acusados de “entregar” jogos para prejudicar um ao outro), faz sentido que justo o confronto entre eles não tenha sido também marcado para as últimas datas da competição? Se fosse, com certeza teria a verdadeira cara de uma final.
Seria isso obra da “influência” corintiana junto à CBF? Nunca saberemos. O que sabemos é que no futebol brasileiro de hoje não existe nenhuma rivalidade que alcança tamanha proporção. Por mais que alguns insistam em fechar os olhos para isso...
Neste endereço http://pt.wikipedia.org/wiki/Majestoso tem um histórico legal do clássico “Majestoso”, como é conhecido o confronto São Paulo x Corinthians. Acesse para se informar sobre os números da história desse confronto (o Corinthians leva vantagem), as maiores goleadas, os confrontos decisivos e muito mais.
